quinta-feira, 28 de julho de 2011

(re)encontro

Meu coração bate rápido, meu estômago está revirando, e eu vou andando num passo meio rápido e meio lento, entro pela porta e te descubro no meio daquela gente, daquela gente que na verdade nem estava ali, vislumbro seu rosto, seu olhar fixo em mim. E continuo andando até que finalmente estamos a poucos centímetros de distância, e então nos cumprimentamos com um beijo na bochecha e de repente eu fico sem graça. Daí você me pede um abraço e eu te dou meu abraço, claro, com o maior prazer do mundo e meio sem jeito, e sinto seu corpo novamente, seus braços me envolvendo, tudo isso depois de tanto tempo...
Depois, não sei como me comportar muito bem. Tento falar coisas, coisas que soam avulsas e sem importância, porque não sei dizer outro tipo de coisa, sabe, você me deixa desconcertada, mas falo essas coisas pra tentar manter sua atenção em mim. E você também parece estar falando coisas assim, e a gente estava meio encabulado, meio constrangido, eu acho. É que passou um tempo, passaram-se meses, diversas conversas e algumas discussões à distância e alguns juramentos meus de que não nos veríamos novamente. Mas cá estou eu novamente, cá está você novamente, cá estamos nós novamente. Cá estou eu mais pronta que nunca para me entregar a você do modo mais intenso possível porque não sei fazer de outro jeito. Cá estou eu para te sentir de novo perto de mim porque sou fraca, porque te quis e te quero e te quero.
A gente vai comer alguma coisa juntos e isso me deixa apreensiva porque significa que teremos que arrumar mais papo, conversa, ou suportar um silêncio estrondoso. Estou tímida, estou tímida, estou tímida mil vezes. E você tem lábios tão rosados e carnudos, eu olho para eles discretamente de vez em quando e então mal posso esperar para beijá-los outra vez, e estou tomando meu milkshake infinito e não como nada, você me oferece algo e recuso, e isso é tudo tão estranho, sei lá, vamos logo embora daqui, vamos logo para um lugar em que possamos nos livrar de toda essa claridade e do seu olhar claramente penetrante sobre mim para que eu possa extravasar o que sinto por você.
É, eu bem queria que nós pudéssemos conversar normalmente, até acho que isso seja possível, mas faz tanto tempo e sou tão introvertida que acabo estragando esses poucos e raros momentos que passamos juntos. Um dia eu vou conseguir te falar as besteiras e baboseiras e até papos cabeça que falo quando está tudo escuro à nossa volta, você vai ver só, mas preciso de treino, só um pouco de treino.
E a escuridão tão esperada por mim ocupa o lugar da claridade do dia lá fora quando entramos naquela sala. Procuramos por dois assentos vazios e discretos por entre aquelas dezenas de cabeças e vamos caminhando até a última fileira, naquele canto esquerdo reservado para os casais de namorados. Nós nos sentamos e eu bebo um gole de água enquanto fico progressivamente mais nervosa e mais apreensiva e mais ansiosa e tenho o desejo crescendo dentro de mim. Você pega na minha mão e eu estremeço. Eu não sei mais o que está acontecendo, mas sei que daqui a pouco nós vamos nos beijar depois de tanto tempo e eu vou sentir novamente o seu gosto e meu paladar vai ficar novamente inebriado por seu gosto, pelo toque dos seus lábios ora suaves ora intensos e pela sua pele e pelo seu calor e pela sua respiração e pelo seu cheiro, e então você me beija e nós nos beijamos e nós nos beijamos e nós nos beijamos e ora minhas mãos afagam seus cabelos e ora elas arranham sua nuca sem querer e ora nossas mãos estão juntas – e eu acho isso tão romântico – e ora minhas mãos descem pelo seu pescoço até chegarem ao seu peito. E você me toca tão docemente e explora meu corpo de uma forma tão suave que não posso não consigo não quero te impedir, e seus dedos são tão meigos adocicados calorosos encantadores aveludados. Ah, eu te quero tanto. E a gente fica abraçado e a gente se acaricia e a gente sente o cheiro um do outro e a gente respira um o ar do outro e isso parece tudo tão intenso que eu sei que vou ter vontade de morrer só de lembrar. Caramba, menino, o que é isso que há entre a gente? Eu fico tão confusa, eu não sei de nada. Mas é claro que é tudo uma ilusão, a gente vai sair daqui e vai voltar à nossa vidinha, não é mesmo? Sei lá, a gente vai até esquecer disso, vai ter outros casos por aí, vai reduzir isso a nada. Mentira. Talvez você sim, mas eu não. Eu não, cara, você mexe comigo de verdade.