É
noite e faz frio. O ar gelado que envolve o meu corpo é distanciado pela
proteção dos cobertores. Mas os edredons não são eficazes para afastar dos meus
pensamentos a saudade de uns braços calorosos me envolvendo debaixo dessa
chuva, coisa que nunca tive.
O ano mal começou. Passaram-se alguns meses; é
final de abril. Mas venho nutrindo a esperança de encontrar você faz tanto
tempo que, à luz da minha percepção, já se passou tempo demais. E é por isso
que tenho essa impaciência, que faz o mundo parecer dezembro.
Sei lá. É que neste ano tá tudo tão amor. Por
todos os cantos, por todos os lados, para onde olho, há amor. Tenho sido
embriagada pelo amor dos outros. E pelas mãos dadas, pelos abraços apertados,
por beijos sufocantes e suspiros encantados. E olhares, e ternura. Ternura.
Tenho sido alimentada por esse amor que vem de fora pra dentro, esse amor que
não me pertence. E isso me torna uma ladra. E isso me torna uma vampira. Mas,
entenda bem, não faço por querer: é uma necessidade. Preciso de algum tipo de
amor. E, na falta de um amor meu, a única opção que resta é ter um amor
não-meu.
Eu quero mesmo é possuir um amor, um amor que
nasça nas minhas entranhas e possa alimentar o amor do meu amor. (Na verdade,
não. Que o amor do meu amor seja tão forte que sobreviva em si mesmo.) Um amor
que seja divergente, que irradie, que preencha não só a mim, mas também o
mundo. É que o mundo precisa de coisas bonitas, sabe? Eu quero ser uma coisa
bonita para o mundo. E, mais do que isso, quero ser uma coisa bonita pro meu
próprio amor. E pro meu amor próprio.
No mais, só posso desejar que esse tempo em que
não possuo um amor pra chamar de meu passe rápido. E que o vazio que preenche
essa ausência do meu amor seja, ao menos, suportável. E que essa espera, que
esse longo hiato, seja compensado com mais amor do que eu seria capaz de
imaginar. E que seus beijos sejam lentos e delicados, e que seus abraços sejam
quentes e apertados.
Que você seja diferente e melhor do que eu sempre
quis. Que nós possamos ser algo.